Pesquisadores vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Fitopatologia da UFV e à Universidade de Brasília (UnB) acabam de relatar a descoberta de uma nova espécie de Pratylenchus, nematoide que ataca as plantações de soja do Brasil. Batizada de Pratylenchus brasiliensis, a espécie foi encontrada pela primeira vez no Tocantins, e está descrita no artigo “Pratylenchus brasiliensis sp. nov. (Nematoda: Pratylenchidae) – an emerging threat to soybean in an important new agricultural frontier in Brazil”. O trabalho é parte da pesquisa de doutorado de Francisco Diniz, primeiro autor do texto, com orientação do professor Eduardo Mizubuti e coorientação da professora egressa do PPG Fitopatologia da UFV Thaís Santiago, hoje na UnB.
A descoberta tem forte repercussão em função da importância econômica que a soja tem no Brasil e do impacto que a infestação por Pratylenchus provoca nesta cultura. “Nós estamos falando de cerca de 47 milhões de hectares plantados no Brasil, que é o maior produtor de soja do mundo”, explica Eduardo. O gênero Pratylenchus aparece como o segundo principal nematoide presente nas plantações de soja no Brasil, estando em mais de 90% das área amostradas. O controle dele tem sido objeto de estudos e de muito investimento, inclusive por parte da iniciativa privada. “Uma forma de controle importante que temos hoje é o controle genético, e quando a gente testou esta nova espécie com as dez principais cultivares disponíveis no Brasil, vimos que todas são suscetíveis ao patógeno. Ou seja, ainda nos falta material resistente para controle desse nematoide”, diz Thaís, acrescentando que quanto mais informação for produzida sobre o gênero, maior a chance de se conseguir um controle eficiente.
Os pesquisadores acumulam mais de 360 amostras coletadas em 11 estados brasileiros, e após a primeira identificação, em Tocantins, a nova espécie foi encontrada também em Goiás, no Mato Grosso e no Acre. Essas são áreas de transição entre a Amazônia e o Cerrado, regiões em que a soja passou a ser plantada nas últimas décadas. “Historicamente, a soja era cultivada no Sul do Brasil. Nos últimos anos, foi levada para todo o país e, dessa forma, começou a ser cultivada em biomas de muita relevância e sensíveis em termos de questões ambientais, destacadamente o Cerrado e a Amazônia”, explica Eduardo. Na avaliação dos pesquisadores, é bastante provável que Pratylenchus brasiliensis já estivesse presente nessas regiões e tenha sido, portanto, “encontrada” pela soja.
“Nós não queremos criar alarde, nem faria sentido. O que sabemos por enquanto é que é uma espécie patogênica de soja, e partiremos agora para testes que nos mostrarão os níveis de virulência da espécie, o grau de infestação existente hoje e a resistência. É bastante possível que haja cultivares que possam controlá-lo no futuro”, diz Francisco, que segue com as pesquisas para a elaboração de sua tese de doutorado. Até a publicação feita pela equipe, acreditava-se que três espécies de Pratylenchus estivessem presentes nas plantações de soja do Brasil, sendo Pratylenchus brachyurus a dominante. “Essas espécies têm como característica a predominância de fêmeas, e o que nos chamou a atenção, inicialmente, foi justamente o fato de que identificamos muitos indivíduos machos, que mais tarde entendemos que eram de outra espécie”, conta Francisco.
Desde que deixou o PPG Fitopatologia, onde fez seus cursos de mestrado e doutorado, a professora Thaís segue trabalhando em parceria com o professor Eduardo, em pesquisas diversas envolvendo identificação e variabilidade de patógenos. O artigo que apresenta Pratylenchus brasiliensis é assinado ainda pelos pesquisadores João Valadares, pós-graduando na UnB, professor Silvino Intra Moreira, da Universidade Federal de Uberlândia, e Paulo Sergio dos Santos, pesquisador da empresa Staphyt.
Fotos: Paulo Santos