Queima das folhas por Alternaria ou Mancha-de-Alternaria

Relevância da doença

A queima das folhas causada por Alternaria dauci é encontrada em diversos campos de produção do mundo, tornando-se uma das mais destrutivas doenças da cenoura. É considerada a doença foliar mais importante da cenoura no Brasil, com ocorrência em todas as regiões onde essa hortaliça é cultivada. Ela é especialmente destrutiva nas épocas mais quentes e úmidas do ano, provocando prejuízos devido à perda de plântulas e de folhagem, levando consequentemente à queda nos rendimentos e na qualidade do produto. O patógeno pode ser disseminado via sementes infectadas ou contaminadas externamente, restos de cultura no solo, através de máquinas ou equipamentos agrícolas, ou ainda pelo vento ou pela água (respingos de chuva ou irrigação).

Etiologia

Agente etiológico

Alternaria dauci (J.G. Kühn) J.W. Groves & Skolko (1944) [MB#284025]

Classe: Dothideomycetes

Ordem: Pleosporales

Família: Pleosporaceae

Sinônimos

Obrigatórios:

Alternaria brassicae var. dauci (J.G. Kühn) Lindau, Rabenhorst’s Kryptogamen-Flora, Pilze – Fungi imperfecti 1(9): 260 (1908) [MB#137491]

Alternaria porri f.sp. dauci (J.G. Kühn) Neerg., Danish species of Alternaria and Stemphylium: 252 (1945)  [MB#351635]

Macrosporium dauci (J.G. Kühn) Rostr., Tidsskrift for Landoekonomi 7: 385 (1888) [MB#416163]

Polydesmus exitiosus var. dauci (J.G. Kühn) Sacc., Sylloge Fungorum 22: 1410 (1913) [MB#137353]

Sporidesmium exitiosum var. dauci J.G. Kühn, Hedwigia 1: 91 (1855) [MB#416592]

Facultativos:

Macrosporium carotae Ellis & Langl., Journal of Mycology 6: 36 (1890) [MB#147381]

Hospedeiros

Daucus carota L. (cenoura)

Alternaria dauci além de atacar a cultura da cenoura, está presente em outros hospedeiros como, por exemplo, Apium graveolens, Fumaria muralis, Gerbera sp., Lactuca sp., Pastinaca sativa, Petroselinum crispum. A. dauci é bastante específico da família Apiaceae, porém existem registros da sua ocorrência em espécies das famílias Araliaceae, Caryophyllaceae, Cruciferae e Solanaceae.

Distribuição

Alternaria dauci é um patógeno de ampla distribuição mundial. A mancha de Alternaria é a doença foliar mais importante da cenoura no Brasil, com ocorrência em todas as regiões onde se cultivam esta hortaliça. Além do Brasil, podemos citar outros países como, Sudão, Bornéu, Butão, Indonésia (Java), Paquistão, URSS (Geórgia), Taiti, Irlanda, Hungria e Romênia.

Características

Sintomas

Lesões necróticas e curvamento das folhas são os sintomas típicos. Sendo que, nas folhas, podem aparecer pequenas manchas de coloração marrom-escura ou preta, circundadas por áreas amareladas, principalmente nas margens, essas as manchas podem aumentar em número e tamanho, podendo resultar na morte da maior parte dos tecidos foliares. Nos pecíolos, pode haver formação de lesões alongadas ou elipsoides. Em plântulas, podem ocorrer lesões no colo, que muitas vezes levam à morte das mesmas. Em inflorescências também pode ocorrer a colonização do fungo, possibilitando sua penetração nas sementes. Alternaria dauci, quando presente nas sementes, ataca as plântulas, matando-as antes ou logo após a emergência, causando típico sintoma de “damping-off”. Nas raízes pode ocorrer manchas marrom-escuras ou pretas, gerando um apodrecimento da mesma devido à entrada do patógeno através de ferimentos ou injúrias.

Morfologia do fungo

Micélio composto por hifa incolor ou de coloração pálida a marrom escura, de parede lisa, principalmente imersa no tecido do hospedeiro, de 2.5-5 × 15-30 µm. As colônias em ágar tem coloração acinzentada-esverdiada, com desenvolvimento abundante de micélio aéreo, que às vezes, secretam um pigmento vermelho para o meio. Conidióforos decorrentes individualmente ou em pequenos grupos, em linha reta ou sinuosos, às vezes geniculado, septados, pálido ou marrom-oliváceo, até 80 x 6-10 µm. Conídio solitário ou ocasionalmente de 2-3 cadeias, primeiramente são pálido ou marrom-oliváceo, tornando-se castanho escuro na maturidade, parede lisa, reta ou curva, obclavados, com 7-11 septos transversais e um ou vários septos longitudinais, ou septos oblíquos, 100-450 x 16-25 µm, incluindo um bico flexível, incolor ou ligeiramente pálido até 3 vezes o comprimento do corpo principal dos conídios; bicos, muitas vezes, são de 5-7 µm de espessura na base, afinando para 1-3 µm no ápice. A iniciação do desenvolvimento conidial é através de um poro no ápice da célula conidiogênica, sendo o conídio conectado por uma faixa estreita com a célula conidiogênica até a separação, quando o poro se torna ocluso é possível a observação de uma cicatriz espessada, com uma cicatriz correspondente na base do conídio; conídios, às vezes, formam mais conídios em cadeias acrópetas, e a célula conidiogênica prolifera após a secessão de conídios para produzir ainda mais conídios simpodialmente.

Observações:

A fase sexuada do gênero Alternaria corresponde ao gênero Lewia.

Atualmente são encontradas, no banco de dados do GenBank, 180 sequências de nucleotídeos depositadas de diferentes regiões gênicas, referentes à Alternaria dauci.

Controle

A queima das folhas por Alternaria é de difícil controle principalmente quando uma cultivar suscetível é exposta a períodos prolongados de molhamento foliar e temperaturas amenas.

Recomendações de controle não químico para a doença:

A rotação de cultura com plantas não hospedeiras, a eliminação de restos culturais, o plantio em solos bem drenados, o espaçamento adequado com a finalidade de facilitar a circulação do ar, e a irrigação somente quando necessário, são práticas agronômicas que podem desfavorecer a incidência da doença. O tratamento de sementes também é uma medida muito importante, uma vez que esta é uma das vias de transmissão do patógeno. Outro ponto importante para o controle é a escolha correta da cultivar. Este fator é muito importante para obter sucesso na exploração comercial da cenoura.

Recomendações de controle químico:

Há vários produtos registrados para o controle da doença em cenoura. Atualmente existem registrados 53 produtos no Ministério da Agricultura que podem ser utilizados nos programas de controle da doença de acordo com o site do Agrofit (http://agrofit.agricultura.gov.br). Desta forma, aplicar fungicidas com múltiplas ações, alternados com fungicidas de sítios específicos, aliadas às boas práticas de manejo, pode minimizar o risco de futuros prejuízos causados pela doença.

Imagens para diagnose

Referências importantes

CBS. Disponível em: http://www.cbs.knaw.nl/Indoor/BioloMICS.aspx?Link=T&TableKey=14682616000000061&Rec=6290&Fields=All. Acesso em 25 de junho de 2015.

David, J.C. 1988. Alternaria dauci. C.M.I. Descr. Pathog. Fungi Bact. 951: 1-2.

Index Fungorum. Disponível em: www.indexfungorum.org. Acesso em 25 de junho de 2015.

Kimati, H., Amorim, L., Rezende, J.A.M., Bergamin Filho, A., Camargo, L.E.A. (Eds.) Manual de Fitopatologia. Vol. 2. Doenças das Plantas Cultivadas. 4ª. Ed. São Paulo SP. Ceres. 2005.

MAPA (Agrofit) – Disponível em: http://agrofit.agricultura.gov.br. Acesso em 25 de junho de 2015.

MycoBank. Disponível em: http://pt.mycobank.org/BioloMICS.aspx?Link=T&TableKey=14682616000000063&Rec=16082&Fields=All. Acesso em 25 de junho de 2015.

NCBI. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/Taxonomy/Browser/wwwtax.cgi?id=48095. Acesso em 25 de junho de 2015.

Reis, A. Queima das folhas da cenoura: uma doença complexa. Embrapa Hortaliças. Circular técnica 91. 1-8p. 2010. ISSN 1415-3033. Disponível em: http://www.cnph.embrapa.br/paginas/serie_documentos/publicacoes2010/ct_91.pdf. Acesso em 25 de junho de 2015.

Agradecimentos

Aos amigos da turma, pelo companheirismo, aos professores Robert, Olinto e Fabrício pelos ensinamentos e à Janaína por todo auxílio na condução deste trabalho.

Citação

Abreu, V. P. Queima das folhas por Alternaria (Alternaria dauci): importante doença foliar da cultura da cenoura. Biblioteca de imagens. Atualizado em 01/07/2015.

Última atualização

01/07/2015