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Pesquisadoras reunidas no laboratório da professora Dalila Buonicontro

Maioria entre os estudantes dos programas de graduação em Fitopatologia do país, as mulheres chegam a esse 8 de março ainda com uma lista grande de desafios a vencer. Se, por um lado, têm seu espaço cada vez mais consolidado nos mais qualificados cursos de mestrado e doutorado do Brasil, por outro ainda enfrentam preconceitos e lutam para transpor essa equidade numérica para a docência e o mercado de trabalho de forma geral. “Na Fitopatologia há pesquisadoras e profissionais muito capacitadas profissionalmente, resilientes, criativas e realmente comprometidas com o desenvolvimento científico no país e no mundo. O trabalho desenvolvido por essas mulheres brilhantes e as inúmeras contribuições dessas na Fitopatologia é uma inspiração para outras mulheres seguirem carreira”, avaliam as representantes discentes do Programa de Pós-Graduação em Fitopatologia da UFV Adryelle Anchieta e Priscila Andrade.

“Eu, no meu laboratório, identifico muitos talentos entre as pesquisadoras – talentos para liderar, para impactar significativamente a fitopatologia, mas temo que elas não tenham acesso às melhores oportunidades quando terminarem os estudos. E aí, dependendo do tempo que elas demorarem para entrar no mercado, esses talentos podem se perder”, diz a professora Dalila Buonicontro, orientadora do PPG. Levantamento feito pelo grupo Mulheres na Entomologia, vinculado à Sociedade Brasileira de Fitopatologia (SBF), justifica a preocupação da professora. Entre os anos de 2020 e 2021, as mulheres eram 59% dos estudantes matriculados nos cursos de mestrado em fitopatologia do país, 57% nos de doutorado e chegavam a 65% nos de pós-doutorado. Entre os docentes destes mesmos cursos, porém, a participação delas caia para 39%. Dos 69 cientistas premiados pela SBF entre os anos de 1984 e 2019, apenas 5 eram mulheres.

Entre as muitas razões para esse panorama, a pesquisadora Renata Belisário, egressa do PPG, e uma das fundadoras do grupo, destaca duas: “Primeiro, tem o viés dos cargos. Quem está selecionando, quem está premiando, na maioria das vezes, são os homens, e a tendência deles, ainda que de forma inconsciente, é escolher os que são como eles. Além disso, há também a desistência ao longo do caminho. Uma das grandes dificuldades das mulheres é que, ao sair do doutorado, a mulher acaba tendo que se decidir entre a carreira e família, os filhos… Os homens, por razões culturais, têm quem cuide de casa, quem planeje as refeições do dia seguinte, o supermercado, a escola dos filhos…”

A professora Dalila, que conseguiu vencer essa tendência, diz que o fundamental, no caso dela, foi o apoio recebido por seus mentores. “Houve pessoas dentro da academia, na nossa área, que me ajudaram a acreditar nisso. Acho que essa foi a grande diferença: ter as pessoas certas na minha vida que me trouxeram uma visão mais positiva”, conta ela, que fez mestrado e doutorado pelo PPG orientada pela professora Rosângela Oliveira, hoje aposentada. “A Rosângela é meu exemplo até hoje.”

E é esse papel inspirador que ela exerce hoje entre suas orientandas, a maioria mulheres. “Eu fui aprovada em dois programas, e uma das coisas que me motivou a vir pra cá foi a oportunidade de trabalhar com uma mulher, e em momento nenhum me arrependo da escolha que eu fiz”, conta a doutoranda Marcela de Freitas Silva. “É muito bacana ver o trabalho da Dalila, uma mulher jovem, tão inspiradora. Nós conseguimos acompanhar os desafios dela, nos orientar. Ela é muito parceira nossa, escuta as coisas que a gente tem a dizer, e tudo isso me motiva a seguir nessa carreira científica. Eu, de fato, tenho ela como um espelho!”

Rede de trocas
A representatividade e a troca de experiências é também um dos focos do Mulheres na Fitopatologia, cuja rede reúne cerca de 130 pesquisadoras. O grupo foi criado em 2019 por Renata e outra egressa do PPG, Flávia Rodrigues, e promove continuamente o fortalecimento das cientistas brasileiras. “Temos uma troca de vivências muito boa, e isso beneficia o trabalho das mulheres. Existem no nosso grupo mulheres que são coordenadoras de seus grupos de pesquisa, por exemplo, e a gente vê que a gente pode aprender com elas, a gente pode se inspirar ali, nessa rede colaborativa que nós mesmas construímos”, conta Renata, que depois do mestrado em Viçosa seguiu para o doutorado pleno na University of Kentucky, nos EUA. “A gente se sentir representada tem uma importância enorme. Se eu não vejo que outras mulheres têm a carreira que eu almejo, eu não consigo ter uma linha certa, um exemplo a seguir, e fica a sensação de que nós não podemos ocupar aquele espaço. Mas nós podemos, e somos muitas.”