Prelecionista: Caio Mattos Pereira
Orientador: Robert W. Barreto
Data: Terça, 03/06/25, às 16h
Local: Auditório do DFP
Resumo: A ferrugem do cafeeiro (FC, Hemileia vastatrix) é a principal doença da cultura e ameaça o sustento de cerca de 100 milhões de pessoas em todo o mundo. Epidemias de FC causaram a histórica calamidade econômica e social no Ceilão (atual Sri Lanka), em 1869. Mais recentemente, entre 2008 e 2015, epidemias desastrosas ocorreram no norte da América do Sul e na América Central. As medidas recomendadas, e até então eficazes, para o manejo da doença, como o uso de cultivares resistentes, a aplicação de fungicidas químicos ou o cultivo em áreas livres do patógeno (especialmente em altitudes mais elevadas), têm apresentado limitações. Assim, formas inovadoras e sustentáveis de manejo da FC tornam-se necessárias. Desde 2015, uma busca por fungos antagonistas de H. vastatrix foi conduzida na África (Camarões, Etiópia e Quênia) e na América do Sul (Brasil e Paraguai). Mais de 1.500 isolados fúngicos foram coletados e cerca de 600 isolados foram testados contra o patógeno em condições controladas. Alguns isolados de Aspergillus, Calonectria, Clonostachys, Cordyceps, Fusarium e Trichoderma se destacaram por reduzir a severidade da doença em testes in vitro e, posteriormente, em casa de vegetação. Nesta tese, experimentos foram conduzidos com isolados pertencentes a espécies fúngicas de ocorrência conhecida ou obtidas no Brasil e envolveram testes: (I) em cafeeiros cultivados em vasos, no ambiente externo, sob telado, e inoculados com H. vastatrix; (II) em áreas de cafezais cultivados para uso experimental; (III) in vitro, testando-se os isolados contra outros agentes causais de ferrugens; e (IV) em soja cultivada em vasos e inoculada com Phakopsora pachyrhizi. O objetivo foi testar preliminarmente os isolados mais promissores em condições de campo para controle de FC e verificar se o antagonismo desses isolados também se estenderia a outras ferrugens de importância agronômica. Cafeeiros cultivados em vasos e tratados com fungos antagonistas apresentaram reduções nas áreas abaixo das curvas de progresso da doença para incidência (AACPDINC) – até 47% – e severidade (AACPDSEV) – até 80%, em comparação ao controle. Em experimentos de campo, redução de até 43% na AACPDSEV foi observada. Em testes in vitro, uredósporos de Austropuccinia psidii, Puccinia recondita, P. pachyrhizi e Uromyces appendiculatus, expostos a suspensões de conídios dos potenciais antagonistas, apresentaram redução significativa na taxa de germinação, com inibição de até 51%. Plantas de soja tratadas com isolados antagonistas e inoculadas com P. pachyrhizi apresentaram redução nos sintomas da ferrugem (diminuição de até 52% na AACPDSEV). Os resultados indicam que Clonostachys spp., Cordyceps cateniannulata e Fusarium coffeibaccae possuem potencial para o manejo da FC em condições de campo e também para o manejo de outras doenças causadas por Pucciniales, como a ferrugem da soja. Tais evidências reforçam o potencial de fungos antagonistas como ferramentas promissoras para o manejo sustentável de doenças de plantas.